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Fernando Pessoa

O fingimento artístico: análise

O fingimento artístico: análise

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Docente: Beatriz M

Resumo

O fingimento artístico: análise

​​Em poucas palavras

Um dos quatro temas fundamentais ao nível da poesia pessoana - mais precisamente quanto a Pessoa Ortónimo - é o fingimento artístico


Autopsicografia


O poeta é um fingidor

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.


E os que leem o que escreve

Na dor lida sentem bem,

Não das duas que ele deve,

Mas só a que eles não têm.


E assim, nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão

Esse comboio de corda

Que se chama coração.

Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15.ª ed. 1995).


Relação com a heteronímia

À primeira vista, e numa primeira análise, é quase óbvio que o fenómeno da heteronímia terá sempre uma relação muito estreita com o fingimento - e esta é uma dedução correta: geralmente, todos os poemas que são assinados pelos heterónimos terão sempre a si patente este fenómeno de intelectualização emocional, mas não é uma relação tão direta como geralmente se pensa:


O fingimento artístico no ortónimo é mais do que apenas a mutação da personalidade - há uma aceitação e afirmação daquilo que é o processo de criação artística, que se afasta de temas Românticos como a "inspiração" ou um conceito de poesia que apenas flui naturalmente, sem qualquer tipo de trabalho intelectual; em Pessoa (e, regra geral, no Modernismo), o facto de haver uma consciência do fingimento faz com que se assuma o processo de criação: e não é por esta consciência existir que a poesia passa a ser literal. É tão lírica como a poesia romântica, mas assume que há trabalho por detrás da escrita.


Metalinguagem

Nos poemas do Fingimento Artístico (os mais conhecidos sendo "Autopsicografia" e "Isto"),  a linguagem e a metalinguagem poética confundem-se para criar uma quase-crise existencial, em que o sujeito poético está extremamente consciente da sua própria existência paradoxal: até que ponto é que saber que os sentimentos são digeridos, processados e intelectualizados não faz com que a poesia deixe de ser sobre um sentimento real? 


Nos últimos dois versos da primeira estrofe de "Autopsicografia", o sujeito poético afirma que, o poeta, de tanto fingir e processar as suas emoções, "[…] chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente."  O fingimento artístico seria tão profundo que chega a ser confundido com um sentimento real - pensar na dor fará com que a dor se torne mais real do que quando foi sentida originalmente.


Os diferentes tipos de dor

A segunda estrofe de "Autopsicografia" é fundamental por denunciar os três tipos de dor que existem no contexto da criação poética do ortónimo:

"E os que leem o que escreve/ Na dor lida sentem bem,/ Não as duas que ele teve,/ Mas só a que eles não têm" 


O sujeito poético, durante a sua vida, a sua experiência e a sua interação com o mundo, vai ter diferentes sensações - de entre elas, a dor. Esta é a dor sentida, que, quando o tempo passa, se torna experiência. 

É esta experiência que vai ser pensada, talvez trabalhada, e que se torna a dor intelectualizada - é a dor que vai ser escrita nos poemas, sendo já diferente da dor sentida por ter passado por um processo de intelectualização e adaptação à produção poética.


No entanto, a única dor que o leitor consegue sentir é a dor interpretada; aquilo que consegue retirar a partir da descrição do sujeito poético da própria dor, que irá, com base em interpretação, espelhar as experiências de quem está a ler, afastando-se (totalmente, nalguns casos) daquela que foi a intenção do eu poético.


O círculo vicioso entre emoções e razão

A última quadra desta composição poética ("Autopsicografia") é especialmente importante para compreender de forma mais geral a temática do fingimento artístico: "E assim, nas calhas de roda/ Gira, a entreter a razão/ Esse comboio de corda/ Que se chama coração." 


O sujeito poético vive às voltas num círculo vicioso: o seu coração entretém o seu cérebro por uns momentos enquanto intelectualiza as suas dores - infelizmente, depois disso, regressa à crise de lucidez e tudo se repete. Isto funciona através de vários momentos de pulsar - como quando se dá corda a um brinquedo; este vai funcionar apenas durante um curto espaço de tempo, até voltar a parar.


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