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Fernando Pessoa

Análise de poemas: A nostalgia da infância

Análise de poemas: A nostalgia da infância

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Docente: Beatriz M

Resumo

Análise de poemas: A nostalgia da infância

​​Em poucas palavras

A temática da nostalgia da infância, em Pessoa, tem várias características particulares que fazem dela uma consequência de todo o complexo processo de intelectualização e processamento de sentimentos pelo sujeito poético: de tanto pensar sobre aquilo que sente, vai sentir-se esgotado e querer evadir-se para o mundo dos sonhos, o que, de forma mais minuciosa, significa, por vezes, uma reflexão acerca do único tempo em que realmente foi feliz: a infância. 


A infância é vista como o único tempo de verdadeira felicidade, antes de todos os traumas e sofrimentos. É um momento de inocência, paz e felicidade, que até se espalha aos heterónimos, como Álvaro de Campos em "Aniversário": "No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,/ Eu era feliz e ninguém estava morto." (Fernando Pessoa, 1944)


Mas não só em Campos Intimista se reflete esta temática, evidentemente: alguns dos poemas do ortónimo que mais refletem este sofrimento são "Pobre velha música!" e "Quando as crianças brincam":


Pobre velha música!


Pobre velha música!

Não sei porque agrado,

Enche-se de lágrimas

Meu olhar parado.


Recordo outro ouvir-te.

Não sei se te ouvi

Nessa minha infância

Que me lembra em ti.


Com que ânsia tão raiva

Quero aquele outrora!

E eu era feliz? Não sei:

Fui-o outrora agora.


Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942.



​​Quando as crianças brincam


Quando as crianças brincam

E eu as oiço brincar,

Qualquer coisa em minha alma

Começa a se alegrar.


E toda aquela infância

Que não tive me vem,

Numa onda de alegria

Que não foi de ninguém.


Se quem fui é enigma,

E quem serei visão,

Quem sou ao menos sinta

Isto no coração.


Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942.


A memória sensorial do passado

Em "Pobre velha música!", o sujeito poético tem uma reflexão particular acerca de uma memória da sua infância, que é despontada por uma memória auditiva: a música que ouve e que, sem que entenda porquê, ao início, o faz chorar. Esta memória sensorial é extremamente importante ao nível da compreensão desta temática porque, geralmente, quando falamos da nostalgia da infância, há sempre algum tipo de estímulo sensorial que faz com que o sujeito poético relembre algum ponto particular desta sua infância, tempo de felicidade e inocência que já passou e não volta. 


Durante a segunda estrofe, o sujeito poético levanta a possibilidade de não ter sequer ouvido a música, por já não saber se é a música que o lembra da infância ou a infância que o lembra da música - há uma confusão entre as sensações e o seu significado, pois o sujeito poético intelectualiza aquilo que sente de forma tão exaustiva que tudo se torna apenas um dado processado, não uma emoção organicamente sentida.


Já em "Quando as crianças brincam", a sensação de saudade do passado é diferente, mas o seu efeito é semelhante: pensar na infância traz felicidade. Ao ouvir as crianças a brincar (de novo, a memória é gerada por um estímulo auditivo), o sujeito poético alegra-se, mesmo que não saiba exatamente porquê - vai lembrar-se de uma versão obviamente intelectualizada e trabalhada emocionalmente da sua infância, mas que não deixa de o ser ("E toda aquela infância/ Que não tive me vem") e não se sente incomodado com essa intelectualização excessiva, pois, pelo menos está feliz: "Se quem fui é enigma/ E quem serei visão,/ Quem sou ao menos sinta/ Isto no coração."


A perspetiva da felicidade

Depois de questionar, em "Pobre velha música!", se realmente ouviu aquela música durante a infância, o eu lírico conclui que isso, no fim das contas não importa: o que importa é que ele deseja de maneira incrivelmente forte que esse tempo possa voltar atrás, pois, mesmo que não se tenha sentido feliz na altura ("E eu era feliz? Não sei"), era mais feliz do que o-é no presente, e apenas a memória desse passado deixou-o mais feliz do que estava ("Fui-o outrora agora")Poderíamos estabelecer, inclusive, um paralelo com "Quando as crianças brincam", particularmente ao nível da última estrofe: não importa se a memória é realmente correta ou se aquilo que o sujeito poético lembra aconteceu mesmo; o que importa verdadeiramente é a situação de felicidade no meio de tanto sofrimento no presente. 



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FAQs - Perguntas Frequentes

O que é que, regra geral, vai despontar a memória da infância em Fernando Pessoa, ortónimo?

Quais os poemas que representam a nostalgia da infância em Fernando Pessoa, ortónimo?

Qual é o poema de Álvaro de Campos que também representa a nostalgia da infância?

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