Vamos então analisar a obra O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago.
Representações do século XX
É possível elencar várias representações do século XX na história, ligadas ao espaço físico da cidade de Lisboa e ao tempo histórico nacional e europeu. Estas representações interligam-se.
O espaço da cidade
O tempo histórico: ano de 1936
Lisboa, marcada pelo rio e pela chuva.
O mau tempo atmosférico como metáfora do tempo histórico.
A cidade e seus atributos como metáfora das características dos Lisboetas.
Regimes políticos totalitários na Alemanha e Itália; crises políticas em França e Espanha.
Ditadura nacional, a autoridade, a propaganda, a censura, a vigilância e a repressão.
Deambulação geográfica
Neste espaço físico, a personagem principal deambula, como a perder-se num labirinto externo, que é uma metáfora da sua própria condição interna. Estas deambulações são a inspiração para as reflexões subjetivas de Ricardo Reis.
Intertextualidade
José Saramago recorre a exemplos concretos de narrativa e estilo próprios de três autores portugueses, que servem de base e inspiração quer ao heterónimo como ao próprio ortónimo.
Cesário Verde
Fernando Pessoa
Luís de Camões
Carácter deambulatório.
A cidade vista pelo observador acidental.
Representação literária no quotidiano da cidade.
Lisboa como espaço ligado à tristeza.
Perceção sensorial da realidade
A poesia de Ricardo Reis (caracterização do protagonista).
Os textos do ortónimo e heterónimos.
O valor simbólico da poesia da Mensagem.
Camões enquanto símbolo da nação e modelo literário.
Simbologia do Adamastor: luta contra os perigos e sofrimento amoroso.
Representações do amor
O autor destaca também dois entendimentos do amor, que se misturam com a personagem quer do heterónimo, quer do ortónimo.
Amor natural
Amor convencional
Amor espontâneo, sem disfarces e imune às condições sociais.
Amor aprovado pelos rituais e preconceitos sociais.
Personificado em Lídia, mulher simples e humilde, mas com vigor físico e sensualidade.
Personificado em Marcenda, mulher idealizada, ainda que debilitada, e de atuação semelhante às musas da poesia de Ricardo Reis.
Linguagem e estilo
Saramago utiliza um tom oralizanteno seu discurso, aproximando-o da oralidade, com frases longas e uso de modalidades de reprodução do discurso. Os sinais de pontuação utilizados são, à semelhança de outras obras do autor, a vírgula e o ponto final.
O discurso direto é também pautado pela falta de marcadores gráficos. O narrador, sendo omnisciente, carrega o texto de comentários, muitas vezes irónicos, e o uso da intertextualidade faz-se através da utilização de frases de obras e de autores portugueses, provérbios populares e expressões idiomáticas.