Vamos analisar o conteúdo e a estrutura de um dos poemas mais emblemáticos da poetisa Florbela Espanca.
Superioridade ao ser humano comum
O sujeito poético considera que quem escreve poesia é colocado num plano mais elevado que os outros.
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
Humildade e generosidade para com o Mundo
Apesar disso, o sujeito poético acredita que ser poeta é ser humilde e generoso com os outros, pois com eles partilha a beleza do Mundo.
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
A constante procura e insatisfação
O sujeito poético considera-se eternamente na procura do Belo ou de sentimentos que não consegue alcançar, e por vezes, nem sabe bem o que procura ou deseja.
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
(...)
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Inspirador e inspirado
Na sua busca incansável da beleza e da sabedoria, representado pela imagem do condor, o sujeito poético vive numa espiral de eterna inspiração, deixando-se inspirar pelo que se encontra ao seu redor e inspirando os outros.
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
Amante apaixonado
A intensidade sentimental manifesta-se num amor e paixão muito vividos e anunciados.
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Estrutura
Este poema é um soneto, com catorze versos, dividido em duas quadras e dois tercetos. O seu esquema rimático tem rima emparelhada e interpolada nas quadras (ABBA/ABBA) e interpolada e cruzada nos tercetos (CDC/EDE).