A implantação do marxismo-leninismo e a regressão do demoliberalismo

​​Introdução

No início do século XX, o clima político da Rússia encontrava-se numa situação bastante volátil. A participação na Primeira Guerra Mundial, a partir de 1914, expôs ainda mais as fragilidades do Império, e em 1917, iniciou-se o processo de implantação do marxismo-leninismo, que culminou na formação URSS e na disseminação do comunismo pela Europa. Em resposta, regimes fascistas começaram a surgir nos países do ocidente.

Dos Antecedentes das Revoluções de 1917 à NEP

Em 1917, o Império Russo era alvo de grande insatisfação por parte do seu povo. A fome, pobreza e desorganização económica, junto com as perdas da guerra, levou a um agravamento da contestação política que culminaria na implantação do primeiro estado socialista do mundo.

As Revoluções de 1917

Tal como Marx ambicionara, a classe trabalhadora conseguiu, pela primeira vez na História, tomar o governo.

Democracia dos sovietes e Guerra Civil (1918-1920)

O primeiro passo do novo Governo foi publicar os decretos revolucionários. Estes ambicionavam promover a paz, entregar terras aos camponeses e dar o controlo das empresas aos operários. 

Como resistência ao regime bolchevique, rebentou uma guerra civil entre os brancos (oposição apoiada por Inglaterra, França, Estados Unidos e Japão) e os vermelhos (bolcheviques). Neste conflito, que durou de 1918 a 1920, 10 milhões de pessoas morreram, a maioria de fome, frio ou doença - um reflexo da miséria vivida na época.  Com o apoio do disciplinado Exército Vermelho e da população, que temia o regresso das fações privilegiadas ao poder, os vermelhos acabaram por vencer o conflito.

Comunismo de guerra (1918-1921)

Sempre com a intenção de seguir a doutrina de Marx, Lenin rapidamente implementou a ditadura do proletariado, um passo importante na construção de uma sociedade socialista. Pela forma implacável como Lenin impingiu este regime, esta fase histórica ficou conhecida como o comunismo de guerra. 

As medidas impostas durante esta fase incluíram:​

• nacionalização da economia, dos bancos, empresas e frotas mercantes - meios de produção nas mãos do Estado, de acordo com o marxismo;
  
• responsabilidade do Estado de distribuir bens segundo os seus critérios de justiça;
• trabalho obrigatório dos 16 aos 50 anos;
• emancipação do povo por meio da promoção de cultura e educação.

Instala-se então, a ditadura do Partido Comunista (anterior Partido Bolchevique). Até 1922, todos os partidos políticos para além do comunista seriam proibidos. Em paralelo, a polícia política detinha e julgava quaisquer suspeitos de conspiração contra o regime, os culpados eram executados ou levados para campos de concentração, que se expandiam cada vez mais.

Centralismo democrático 

Em 1922, a Rússia tornou-se na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), um Estado multinacional e federal constituído por repúblicas com igualdade de direitos, uma Constituição e com um certo nível de autonomia.

Segundo Lenin, a vitória do socialismo só seria alcançada com a conciliação da disciplina e da democracia segundo a fórmula do centralismo democrático, em que os corpos dirigentes são escolhidos de baixo para cima. Mesmo assim, o Partido Comunista exercia hegemonia sobre os órgãos do Estado e alguns individuos exerciam funções nas duas organizações. 

Lenin não via este cenário como incompatível com a democracia pois defendia uma democracia estritamente defensora dos interesses do proletariado e o Partido Comunista era, de facto, o único partido proletário.

A Nova Política Económica (1921-1927)

A guerra civil dos últimos anos tinha deixado a Rússia em crise. Com a grande baixa na produção agrícola e industrial, pessoas morriam à fome e a economia caía a pique. Rapidamente começaram manifestações e ameaças de revolução.

Em resposta, Lenin fez um recuo no comunismo de guerra, dando lugar à Nova Política Económica (NEP). Este novo modelo recorria a um capitalismo parcial e incluía os seguintes focos:

• recuperação agrícola;
  
• desnacionalização de empresas e outras medidas favoráveis à indústria;
• modernização na produção de energia.

Mesmo com o sucesso destas medidas, brevemente o Partido Comunista iria reinstaurar as doutrinas marxistas.

A Regressão do Demoliberalismo

Seguindo o principio do internacionalismo proletário, a Rússia realizou em 1919 um evento internacional, o Komintern (ou Internacional Comunista). O objetivo seria promover o marxismo-leninismo a nível mundial e incentivar a luta operária. Esperava-se também que esta internacionalização diminuisse boicotes externos à Rússia Soviética, que na altura se faziam sentir pelo apoio aos brancos na guerra civil.

Por toda a Europa, começaram a insurgir revoluções inspiradas nos sovietes. Nomeadamente, na Alemanha, Hungria e Itália, onde se deram vários conflitos entre o governo e o proletariado, no entanto, nenhum perdurou.

Emergência de autoritarismos

Este surto de revoluções gerou um medo do bolchevismo por toda a Europa, especialmente entre a burguesia. Rapidamente as classes mais privilegiadas começaram a protestar contra a democracia liberal, que consideravam conceder demasiadas "regalias sociais" ao proletariado. Culpavam esta forma de governo pela instabilidade política e pela crise económica e social que se estava a viver.

Especialmente nos países mais fragilizados pela guerra, a proposta de soluções autoritárias por parte da direita tornou-se uma tendência. Em consequência:

• o fascismo foi implantado na Itália em 1925, durando cerca de 20 anos;
  
• em Espanha, viveu-se uma ditadura militar de 1923 a 1930;
• outros regimes autoritários instalaram-se em Portugal, Grécia, Áustria, entre outros;
• começaram a surgir as primeiras sementes do nazismo na Alemanha.

Assim, a democracia liberal, que triunfara após a Primeira Guerra Mundial, chegava ao fim do século XX extremamente ameaçada pelo autoritarismo. Considera-se por esse motivo que se deu nesta época uma regressão do demoliberalismo.