A Regeneração: início e consequências

Introdução

A Regeneração foi um período entre 1851 e o final do século XIX. Caracteriza-se por ser uma nova fase do Liberalismo, onde a vida política e social era vista de modo igual para todos. Esta visão permitiu um grande crescimento a nível económico e político. A partir de 1880 uma crise financeira abateu-se sobre Portugal o que causou grandes dívidas e levou muitas empresas à falência. Com a criação de uma nova pauta alfandegária, o país voltou a erguer-se.

Liberalismo

O Liberalismo surgiu no século XVII. É uma corrente política que defende a liberdade individual de cada um tanto a nível económico como social. É contra o poder total do Estado.

O começo da regeneração

O golpe militar do marechal-duque de Saldanha, em 1851, deu origem à Regeneração. Com a Regeneração, o Liberalismo ficou ainda mais vincado em Portugal e a revisão da Carta Constitucional em 1852 fez com que as instituições políticas voltassem ao normal: o sufrágio universal, as eleições diretas e a possibilidade de qualquer partido chegar ao poder, tornaram-se uma realidade. Com a burguesia e o povo em pé de igualdade relativamente à política, verificou-se um clima de tranquilidade política e social.

Infraestruturas

Enquanto que na Europa o avanço a nível dos transportes era notório, em 1850, esse avanço ainda não existia em Portugal. Os transportes eram antigos e as cidades estavam desorganizadas devido aos estragos feitos pelas invasões francesas. Em 1852, Fontes Pereira de Melo liderou a criação do Ministério das Obras Públicas. Surgiu o Fontismo: um período onde levaram a cabo a renovação das infraestruturas e da comunicação. Fontes Pereira de Melo acreditava que a expansão do mercado e das comunicações iria facilitar a circulação da população e da produção.

Resultado do Fontismo

Entre 1852 e 1856, dedicaram-se à construção de estradas e, em 1884, já contavam com mais de 9000km construídos. Dedicaram-se aos transportes públicos, mais precisamente ao comboio, em 1856. Nesse mesmo ano o rei, D. Pedro V, inaugurou a linha Lisboa-Carregado. Em 1869 surgiu a linha do Leste, que ligava a zona centro ao Baixo Alentejo e a Vila Nova de Gaia. No fim do século, Portugal estava ligado pelos caminhos de ferro.

Consequências

A construção das linhas ferroviárias levou também a uma transformação a nível paisagístico. Os túneis atravessavam montes, as pontes passavam por rios e a construção das estações ferroviárias trazia muita gente e mercadoria. Em 1877, o comboio chegou ao Porto com a construção da ponte Maria Pia. Dez anos depois, Portugal estava ligado à Galiza.

Com um maior fluxo de mercadorias por via marítima, foram reformados espaços como o porto de Lisboa e, no Norte, foi construído o porto de Leixões. Os caminhos de ferro vieram acelerar o processo do envio de correspondência e, a nível dos correios, foi criado o selo adesivo. Também em 1856, o telégrafo foi instalado para facilitar a comunicação. Todas estas transformações reformaram as grandes cidades. Mais tarde, surgirá também o automóvel.

Atividades económicas

Comércio

O sistema métrico decimal foi aprovado em 1852. Esta medida facilitou o sistema de pesos e medidas, que ficaram agora iguais para todos. A livre circulação de mercadorias fazia com que os produtos chegassem a toda a população e, durante a Regeneração, movimentou a produção agrícola e industrial. Tudo isto levou ao aumento das relações internacionais assim como uma abertura para o comércio externo.

Agricultura

Este desenvolvimento levou também a que a agricultura se modernizasse, criaram associações agrícolas e organizaram-se exposições e concursos. Foi alargada a área de cultivo e foi feito um melhor aproveitamento do solo, assim cresceram novas plantações: milho, trigo, batatas e arroz. Introduziram-se também os adubos e as máquinas agrícolas, como a ceifeira e a debulhadora. As produções portuguesas de gado, vinho, casulos de seda, cortiça e frutos secos eram exportadas para França e Inglaterra. Fontes Pereira de Melo instituiu também o ensino agrário para formar técnicos e agricultores.

Industrialização

Na industrialização fundaram-se sociedades, o ensino industrial, e organizaram-se exposições. Nas associações e sociedades divulgavam novos métodos e mecanismos e, no ensino industrial, tinham como objetivo instruir os operários e alargar o seu conhecimento. No meio de tudo isto foram criadas sociedades anónimas cujo objetivo era promover o trabalho em Portugal e assim conseguir o investimento de capitais estrangeiros.

A partir de 1870, a melhoria a nível tecnológico verificou-se com a importação de máquinas, assim como a criação de novas invenções espalhadas por todos os ramos industriais. Surgiram novos setores: tabaco, papel, fósforos, conservas, etc.

O crescimento económico português

A industrialização portuguesa chegou tarde, por isso, foi difícil acompanhar o avanço que os outros países já tinham. Faltavam também muitos materiais, essenciais a este crescimento: algodão, ferro e carvão. Em 1890, nem 20% da população trabalhava nesta indústria e apenas uma parte desses 20% trabalhavam nas fábricas. As grandes indústrias ainda não se tinham desenvolvido: predominavam as pequenas oficinas dentro de casas. De toda a produção do país, apenas 10% era exportado. Na agricultura, este atraso relativamente aos outros países, também foi visível.

Ajuda estrangeira

Para alterar a situação do país e aumentar o poder económico, esperava-se que o alargamento das comunicações e o desenvolvimento agrícola ajudassem a aumentar os impostos. No entanto, o ritmo de produção não foi suficiente e as despesas eram maiores que o lucro. Para fazer face a estas dificuldades o Estado português recorria a capital estrangeiro para pagar juros e empréstimos. Este capital também era investido em empresas privadas, sendo que este investimento foi mais sentido nas comunicações, no gás, nos transportes e na banca. Oliveira Martins, historiador, denunciou esta necessidade de ajuda estrangeira: tudo o que estava em Portugal, era de facto, estrangeiro.

Crise financeira

A Regeneração evidenciou a dependência do país: economicamente, as exportações portuguesas eram todas de produtos primários. A partir de 1870, um ácaro afetou a produção portuguesa de vinho e, por isso, era apenas exportado o gado, seda e fruta. O não desenvolvimento industrial agravou as diferenças a nível comercial e, no Brasil, deixaram de investir em Portugal.

Consequências

A dívida do Estado aumentou e era recorrente pedir créditos que a ajudassem a pagar. Estes créditos eram também usados para financiar as obras públicas. Em 1890, um banco londrino que emprestou dinheiro a Portugal entra em falência, provocando também a queda de instituições bancárias em Lisboa e no Porto. Por esse motivo, em 1891, o Estado impediu que as notas bancárias fossem convertidas em ouro e, em 1892, foi declarada bancarrota.

Soluções

Em 1892, o Governo criou uma nova pauta alfandegária. O objetivo era garantir boas condições para a agricultura e para a indústria, de forma a comercializar os seus produtos dentro e fora do país. Posto isto, a última década do século registou um progresso industrial, tanto a nível da mecanização como no desenvolvimento de novos setores: conservas, tabaco e metalurgia pesada. Aqui surgiram grandes companhias como, por exemplo, a Companhia União Fabril e a Companhia Cimento Tejo. Nos transportes, serviços públicos (água, luz, eletricidade) e nos bancos também se verificou uma grande evolução. No início do século XX, Lisboa-Barreiro-Setúbal e Porto- Braga-Guimarães já eram considerados os pontos principais do país.