A Contrarreforma

​​Introdução

Depois do movimento de ruptura do protestantismo, a Igreja vai tomar medidas para se tornar mais rígida e respeitada. 

Ao longo do tempo, são introduzidas novas medidas que pretendem reformar o Grande Clero e contrariar as acusações feitas pelos protestantes, através, principalmente de violência e censura.

A Contrarreforma e a Reforma Católica

A negação de dogmas católicos pelas igrejas reformadas não impediu que a essência do cristianismo se mantivesse, pelo que a religião cristã continuou a ser uma forte componente da identidade cultural europeia.

No entanto, a Igreja Católica reagiu com firmeza à expansão do protestantismo, num movimento designado por Contrarreforma e Reforma Católica.

A reforma disciplinar

O Concílio de Trento

Em 1545, o papa Paulo III convocou o concílio que devia pôr termo à crise da cristandade. Os trabalhos concluíram-se apenas em 1563, deliberando-se acerca de dogmas e culto:

• Reafirmação das obras humanas para a salvação da alma, em vez da justificação pela fé e predestinação;
• Proclamação do valor sagrado da Tradição e dos ensinamentos de teólogos importantes;
• Manutenção da Bíblia em latim e a celebração das cerimónias também em latim;
• Legitimação do culto das relíquias, dos santos e da Virgem Maria, representados em imagens;
• Confirmação dos sete sacramentos;
• Reforço da autoridade do papa na liderança espiritual da Igreja;
  
• Proibição de acumulação de benefícios eclesiásticos;
• Residência obrigatória de bispos e padres nas dioceses e paróquias;
• Visitas pastorais dos bispos às paróquias a fim de fiscalizarem o cumprimento dos serviços espirituais;
• Obrigatoriedade do celibato;
• Criação de seminários para a formação moral, intelectual e espiritual dos futuros clérigos.

Combate ideológico

​​O Índex e a censura

O combate ao avanço do protestantismo passava também pela vigilância intelectual da cristandade, de forma a evitar o que se consideravam "leituras perigosas". Neste sentido, o Concílio de Trento determinou que a Congregação do Índex elaborasse uma lista das obras desviantes da doutrina católica.

Apesar de ter sido elaborado para vigorar em todos os países católicos, o Índex só foi aplicado na Itália, Países Baixos, Baviera e em Portugal.

Ao longo de mais de 400 anos, a censura intelectual exercida naqueles territórios foi deixando as suas marcas e proibindo centenas de obras.

A Inquisição

Desde o século XIII que o Tribunal da Inquisição vigorava na Cristandade para reprimir os focos de heresia.

A eficiência da Inquisição Espanhola foi tal que o papa Paulo III considerou que este tribunal seria determinante na destruição do protestantismo. Neste sentido, o papa passou a presidir à Inquisição, então reorganizada e mais combativa.

Nos países católicos onde foi implantada, a Inquisição era temida pelos métodos cruéis com que agia sobre os arguidos. Se considerados criminosos e desumanos nos dias de hoje, na época eram habituais. Recorria-se à tortura para obter confissões, sobretudo quando não havia provas.

A Inquisição também teve o título de Tribunal do Santo Ofício pelo facto de o combate à heresia ser considerado uma "obra santa".

A Companhia de Jesus

No contexto da Contrarreforma e no esforço de renovação do catolicismo, foram criadas novas congregações religiosas. A Companhia de Jesus foi uma das que mais se destacou pela sua ação militante e empenho; o seu proselitismo deu um impulso à expansão do catolicismo. 

A Companhia fazia lembrar um exército, sendo dirigida por um general. Os jesuítas consideravam-se os "soldados de Cristo", acrescentando aos tradicionais votos de pobreza, castidade e obediência ao superior, o voto de obediência incondicional ao papa.

Como missionários, chegaram aos confins da Ásia, África e América. Neste continente, tiveram também um importante papel na instrução, evangelização e defesa dos ameríndios da escravatura. 

A Reforma Católica em Portugal

Portugal manteve-se sempre fiel à fé católica e integrado no movimento da Reforma e da Contrarreforma, de forma notável. 

Muito em particular, impressionou o zelo religioso dos padres jesuítas em Portugal. D. João III autorizou a sua entrada institucional em 1540, aquando da aprovação papal. No nosso país, construíram uma rede escolar ampla, com colégios espalhados por Portugal continental, insular e colonial. 

Ao longo da segunda metade do século XVI, o clima de intolerância religiosa intensificou-se em Portugal: o índex português era extremamente rígido e permitia a denúncia e condenação pelo tribunal. 

Em Portugal, foram os cristãos-novos as maiores vítimas do tribunal religioso. Muitos preconceitos recaíam sobre os judeus, principalmente os que se converteram forçosamente ao Cristianismo. 

No conjunto da sociedade portuguesa, o Índex e a Inquisição deixaram fortes marcas, ao limitarem a criação cultural, imporem severos padrões morais e instalarem um angustiante sentimento generalizado de culpa e medo.