Expansão marítima: contributos

​​Introdução

A expansão marítima dos reinos ibéricos vai ter várias consequências ao nível científico: desde a inovação técnica náutica até às novas regras cartográficas, influenciando até a astronomia:

A inovação técnica

Ainda antes do início do movimento expansionista por via marítima, os portugueses já dispunham de conhecimentos técnicos que foram trazidos pelos árabes e judeus: a bússola, o astrolábio, o quadrante e outros instrumentos eram já conhecidos e parte da vivência.

No entanto, mesmo já usando técnicas avançadas conhecidas, houve um notório progresso técnico ao nível da náutica e da cartografia​.

Construção naval

Desde meados do século XV, a construção náutica vai sofrer várias alterações, que tornaram possível a ultrapassagem de vários obstáculos que foram surgindo. 

Um exemplo disso é a tentativa de superar os ventos contrários, que impediam a navegação: são criadas sucessivas inclinações oblíquas de velas quase que em ziguezague - assim nasce a técnica de navegação à bolina.

Além disso, a própria implementação desta nova técnica vai criar a necessidade de usar embarcações mais fortes e resistentes: as caravelas, navios muito mais velozes, com cerca de 15m de quilha e um porte raramente superior a 150 toneladas.

Mas tarde, as viagens muito longas em direção ao Oriente e às Américas tornaram necessários a nau e o galeão, muito mais resistentes e maiores. 

Navegação astronómica

A navegação com ventos contrários tornou também possível outra importante mudança ao nível da ciência náutica: quando as viagens atingiram durações muito mais extensas, as referências terrestres passaram a não ser suficiente. Assim,  a navegação tradicional tornava-se obsoleta. 

Para resolver este problema, os portugueses adotam a navegação astronómica, que permite utilizar os astros enquanto referência de orientação.

Mais tarde, vão ser também usadas as tábuas solares, com o valor da declinação solar, calculada por matemáticos e astrónomos, que permitiam calcular a latitude a que as embarcações se encontravam.

Cartografia

A cartografia medieval mostrou-se sempre primitiva e simplista, com raras excessões: a Terra, nos chamados planisférios T-O, surgia como um disco plano, constituído por três continentes e rodeado de oceano. Outros mapas decompunham a terra em zonas. 

Estas representações eram puramente simbólicas, não existindo nenhum critério científico de aproximação à realidade.

Outras conceções cartográficas, em voga no século XV, derivavam da obra do deógrafo grego Ptolomeu (séc. II) e, entre várias incorreções, não admitiam a comunicabilidade entre os oceanos Atlântico e Índico.

Depois da expansão marítima dos séculos XV e XVI, a cartografia europeia regista um aperfeiçoamento notável: foram revistas as conceções medievais, permitindo conhecer com mais exatidão muitas regiões da Terra até então ignoradas ou desconhecidas. 

Observação e descrição da natureza

A expansão marítima proporcionou uma atenta observação da natureza, que, inclusive, colocou em causa muitas conclusões que eram tidas como absolutas anteriormente:

• Ampliação do conhecimento geográfico da superfície terrestre, adquirindo uma melhor perceção das distâncias entre corpos terrestres;
• Maior entendimento das redes hidrográficas, climas, funcionamento dos ventos e correntes e outros fenómenos meteorológicos;
• Confirmação de que as zonas equatoriais são habitáveis;
• Demonstração de que a Terra é esférica e da existência de antípodas;
• Alargamento dos conhecimentos cosmográficos, explicando o movimento dos astros.

Em obras de geografia física, humana e económica, os portugueses descreveram com objetividade a realidade observada. 

Ao negar e/ou corrigir os Antigos, os portugueses permitiram a construção de um novo saber, que tinha por base a experiência: nasce o experiencialismo. Evidenciando a superioridade dos Modernos, muitos mitos foram abatidos.

Não obstante, os novos conhecimentos derivados do experiencialismo resumiram-se a observações e descrições empíricas da natureza e não a resultados de experiências feitas para a verificação de hipóteses. 

Apesar de ainda não existir verdadeira ciência, esta nova forma de saber contribuiu para o exercício do espírito crítico que se encontra nas raízes do pensamento moderno. As verdades indiscutíveis da Antiguidade foram revistas, ao mesmo tempo que alastrou o sentido de curiosidade acerca do funcionamento do mundo. 

Revolução das conceções cosmológicas

A primeira manifestação de ciência moderna surge com as novas explicações cosmológicas que combinam o cálculo matemático com a observação. 

Esta nova visão deve-se a Copérnico que, na obra De Revolutionibus Orbium Colestium (1543), contrariou a teoria geocêntrica de Ptolomeu, operando a revolução copernicana.​

Os efeitos das conclusões de Copérnico não foram sentidos imediatamente - principalmente por ter sido apresentada pelo seu autor como uma hipótese, não uma realidade científica - os seus contemporâneos não se convenceram, mas a inquietude instalou-se, e o paradigma acabaria por mudar mais tarde.